sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Desigualdade brasileira em números, na voz do João Pedro Stedile

A sociedade brasileira vive uma crise civilizatória, porque a estrutura é extremamente perversa. É uma fábrica de se produzir pobres e humilhados. Vejam o que as estatísticas nos mostram.

1) O Brasil é a economia mundial em valor de riqueza. No entanto, pelo padrão das condições de vida, nós estamos no 75º lugar, o que demonstra que essa riqueza não vai para o povo, não é para a maioria das pessoas viverem bem.

2) O pior: o Brasil é a sociedade do planeta de maior desigualdade social, ou seja, temos a 7ª pior distribuição de renda no mundo. Nós temos 80 bilhões de brasileiros em idade adulta para trabalhar, e 60% está no trabalho informal. Apenas 40% são trabalhadores com carteira assinada, com direitos trabalhistas. Essas condições desiguais são geradas pela concentração que existe na sociedade brasileira.

3) No meio rural a concentração da propriedade da terra é das maiores do mundo. Nada justifica que 1% dos proprietários sejam donos de 46% das terras. O banqueiro D. Dantas comprou 600 mil hectares de terra, 36 fazendas, em 3 anos, no sul do Pará. A própria Cutrale, que é associada com a Coca Cola e monopoliza praticamente o comércio de laranja no mundo, tem 60 mil hectares em São Paulo. Detalhe... boa parte destas terras da Cutrale tem seu título de propriedade contestado pelo INCRA. Ou seja... seriam terras invadidas, pela Cutrale. Há uma base de injustiça que já vem da propriedade da terra.

4) Na semana passada, os jornais noticiaram tranquilamente que a cidade de SP tem 400 mil imóveis, casas e apartamentos, fechados para especulação. Enquanto isso... centenas de milhares de sem teto tem que se virar e improvisar os barracos sem condições mínimas de habitação.

5) O monopólio da comunicação talvez seja tão perverso quanto a concentração da terra e da riqueza no país. Porque, através da concentração da informação nas mãos de sete grupos econômicos, eles manipulam o que as pessoas pensam. E portanto fazem com que as ideias da mudança e a indignação contra as injustiças se desloquem ou se enfraqueçam. Certamente a sociedade brasileira só será mais clara e justa quando fizermos uma democratização dos meios de comunicação”.

[Por João Pedro Stédille, no debate de encerramento do 15° Curso Anual do NPC]

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