gh-783.gif

Às vésperas de completar 80 anos, Clint Eastwood consegue mais uma façanha cinematográfica como diretor ao levar às telas uma história verdadeira e emocionante sobre a África do Sul pós-apartheid no bom filme “Invictus” que estreou no circuito comercial brasileiro no fim de janeiro.

“O filme é um biopic de um ano na vida de Nelson Mandela (Morgan Freeman, cheio de gravidade e leveza; está nomeado para o Oscar), que esteve 27 anos preso enquanto ativista do ANC mas que foi eleito presidente da África do Sul. O período é 1995, logo a seguir à sua olímpica eleição e quando o país acolhia o campeonato do mundo de rúgbi, orgulhoso desporto nacional de afrikaners, ostensivamente ignorado pela maioria negra, que prefere a lisura do futebol aos ressaltos incertos da bola oval. É um apropriado pretexto dramático para demonstrar o estado emocional do país: a equipe nacional de rúgbi (Matt Damon é o capitão, uma figura estranhamente branda; é candidato ao Oscar secundário) começa odiada pela maioria mas acaba elevada aos braços de toda a nação.”

José Miguel Gaspar, blog de cinema Mr. Gaspar

Embora a façanha de Eastwood mereça destaque, ele mesmo uma lenda do cinema (além de ator de vasta cinematografia, é produtor, dirigiu 32 filmes e ganhou o Oscar quatro vezes, duas como diretor e duas como melhor filme), a história do filme e suas lições são irresistíveis. Baseada no livro do jornalista inglês John Carlin cujo título traduzido para o português é “Conquistando o Inimigo: Nelson Mandela e o Jogo que Uniu a África do Sul” (Editora Sextante), o filme narra o esforço de Nelson Mandela, recém-eleito presidente, para evitar que os ódios seculares atuassem dificultando ou, mesmo, tornando impossível a construção de uma nação unida pós-apartheid.

“Na tentativa de diminuir a segregação racial na África do Sul, o rúgbi é utilizado para tentar amenizar o fosso entre negros e brancos, fomentado por quase 40 anos. O jogador François Pienaar (Matt Damon) é o capitão do time e será o principal parceiro de Mandela na empreitada.”

Fabricio Duque, blog Vertentes do Cinema

Certo de que sua vitória na eleição não deveria deflagrar a “hora da vingança” dos negros contra os brancos, opressores de antes, Mandela começa por usar sua autoridade para reverter uma decisão que mudava o nome, as cores e o símbolo da seleção de rúgbi da África do Sul, antigo time dos afrikaners (brancos). Entendia que descaracterizar o time seria retirar dos afrikaners um motivo de orgulho e, mais do que isso, deixar escapar a oportunidade de fazer com que esse time, já na condição de seleção da África do Sul, passasse a ser motivo de orgulho também dos negros, ex-oprimidos e, com isso, evitar que o país mergulhasse numa guerra civil.

“Hoje, a África do Sul poderia ser outro Afeganistão. Não é, e é isto que Mandela deixou. A África do Sul é um país democrático, estável economicamente, bastante forte e capaz de celebrar uma Copa do Mundo com novos estádios, com o maior orgulho, sem terrorismo, mas ainda com sérios problemas de criminalidade – como o Brasil.”

Luiz Zini Pires, jornalista gaucho, blog Mundo Livro

Mandela conseguiu, exercendo uma liderança serena e firme na visão do futuro, fazer do rúgbi um instrumento de integração e, não, de desintegração, como queriam até seus assessores mais próximos. Esse é o tema do filme e vale muito a pena conferir como ele conseguiu.


Fonte: Gestão Hoje