História - Instituto Banco Real abriga exposição com documentos, objetos e fotos que resgatam vida do abolicionista
Vandeck Santiago
Fundaj/Divulgacao
Diplomata e cidadão do mundo, Nabuco defendia, além da causa abolicionista, a reforma agrária e a universalização da educação
O fato é que a gente sai da vida escolar conhecendo mais a Mesopotâmia, com os seus sumérios e acadianos que os personagens que fizeram a diferença na história brasileira. Não estou falando dos condes, duques e imperadores, mas de gente como Joaquim Nabuco, Josué de Castro, Paulo Freire, Celso Furtado - com sorte, muita sorte, vamos encontrar uma ou duas linhas sobre eles nos livros indicados em nossas escolas. Por isso a exposição Joaquim Nabuco: Brasileiro, cidadão do mundo, que será aberta amanhã no Recife, prosseguindo até 11 de julho, é um daqueles biscoitos finos raros de encontrar.
A exposição foi instalada ano passado no Rio de Janeiro; agora chega ao Recife. No Rio, a entrada era paga (R$ 6); no Recife, a entrada é franca e, além disso, a mostra será mais ampla. Terá peças que não fizeram parte da mostra na capital carioca, como o documento original da Lei Áurea (do acervo do Arquivo Nacional) e o processo do escravo Tomás (acervo Fundação Joaquim Nabuco), defendido por Nabuco quando era estudante de Direito no Recife, em 1869. O local é o Instituto Cultural Banco Real/Santander Cultural (Av. Rio Branco, 23, Bairro do Recife). Haverá visitas guiadas para escolas, mediante agendamento feito por telefone.
Joaquim Nabuco nasceu no Recife, em 19 de agosto de 1849. Tornou-se o maior dos nossos abolicionistas, defendendo como parlamentar e ativista um pacote de reformas que incluíam abolição, reforma agrária e universalização da educação (como sabemos, só a primeira virou realidade). Foi ainda escritor, historiador e diplomata - morreu como embaixador do Brasil nos EUA, em 17 de janeiro de 1910, aos 60 anos.
A exposição faz uma narrativa da vida dele desde a infância - no Engenho Massangana, no Cabo (PE) - até a morte, em Washington. Divide-se em três módulos, acertadamente organizados em ordem cronológica (sem cair na tentação de experimentalismos, talvez pertinentes quando o personagem é da cultura pop, mas inadequados quando se trata de alguém como Nabuco). As peças são do acervo da família, da Fundação Joaquim Nabuco, do Museu Histórico Nacional e do Arquivo Nacional. Entre elas encontram-se objetos que pertenceram a Nabuco, como a caneta provavelmente usada para assinar a Lei Áurea; as primeiras edições de livros clássicos dele; fotos e correspondências com figuras ilustres do Brasil monarquista e republicano. Um destaque a mais são os recursos multimídia, que entre outras coisas permitirão aos visitantes ouvir um discurso do abolicionista na voz do ator baiano Othon Bastos.
A curadoria é da cientista política Helena Severo, com cenografia do arquiteto Chicô Gouveia e animação multimídia de Marcello Dantas. O patrocínio é do Grupo Santander Brasil e Ministério da Cultura, com apoio da Fundação Joaquim Nabuco, governo de Pernambuco e prefeituras de Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho. O ideal seria que, aproveitando a comemoração do Ano Joaquim Nabuco, a exposição circulasse também por alguns grandes polos do interior, como os municípios de Caruaru, Garanhuns e Petrolina.
Fonte: Diário de Pernambuco