O mangue beat comprovou os versos na canção "Estética da periferia" de Fred Zero Quatro, outro expoente do movimento, autor do manifesto "Caranguejos com cérebro" e fundador da banda mundo livre S/A: "Não espere nada do centro / Se a periferia está morta / Pois o que era velho no norte / Se torna novo no sul".
E já era hora do centro render homenagem à revolução que veio do Recife. O tributo começa nesta quarta-feira, com a " Ocupação Chico Science " no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A mostra, que pela primeira vez tem como tema um músico, convida o público a conhecer a obra e o processo criativo de Francisco de Assis França (nome de batismo de Science).
Contagiados pelo espírito coletivo do mangue beat, os curadores Ana de Fátima Souza e Edson Natale reuniram um grupo de colaboradores para criar a ocupação.
- Trabalhamos com o conceito de curadoria coletiva, muito em função da característica do trabalho do próprio Chico. Não podíamos fazer uma ocupação nos moldes das anteriores, como as dedicadas a José Celso Martinez Corrêa ou Nelson Leirner. Chico Science teve um período muito curto e fértil de carreira, portanto resolvemos focar em seu universo criativo, na época em que ele mudou o norte da música brasileira - explica Ana de Fátima, conterrânea de Science, que acompanhou de perto as mudanças da cena musical de Recife na década de 90.
Participam da curadoria coletiva o cineasta e roteirista Hilton Lacerda e o músico Helder Aragão (também conhecido como DJ Dolores), que nos anos 90 formavam a dupla Dolores & Morales, responsável pela direção de clipes do movimento e pelo projeto gráfico do CD "Da lama ao caos". A irmã de Chico, Goretti França, e a filha do artista, Louise Science, também colaboraram com a elaboração da mostra, bem como o amigo, parceiro e produtor Paulo André Pires, o Fred Zero Quatro, e Jorge Du Peixe, músico da Nação Zumbi.
Com a sensação de que presenciava algo grandioso, o produtor Pires - criador do festival Abril Pro Rock - guardou tudo o que pôde sobre a carreira de Chico Science à frente da Nação Zumbi. Em menos de três anos, o grupo empreendeu três turnês internacionais.
- O Brasil não entendeu a música de Chico Science. Vimos o exterior como a possibilidade de não ficarmos reféns do mercado brasileiro, onde a ignorância permanece. Chico Science tem a mesma importância para a música brasileira que artistas como Cazuza e Cássia Eller, mas está longe de ter a mesma popularidade - afirma o produtor, que, entre outras preciosidades, guarda até hoje o cheque com o cachê de US$ 100 ganho pela banda pelo show realizado no CBGB, em Nova York, e assinado por Hilly Kristal, dono do lendário e extinto bar.
Do acervo da família de Science vieram fotografias, objetos de uso pessoal, obras de arte e cadernos de anotações do artista. A irmã lembra que ele era "uma pessoa que não conhecia o cansaço nem o desânimo. Era como se soubesse que as coisas iam acontecer":
- Chico era encantado com a vida. Via poesia nas coisas e enxergava beleza em tudo - define Goretti. - Ele falava sobre seu trabalho como uma "diversão levada a sério". Espero me divertir com a mostra e tenho a sensação de que vou encontrar Chico lá. O público poderá ver como ele se envolvia em todas as etapas do processo criativo.
Para Lacerda, um dos parceiro de Chico na criação visual, a mostra pode trazer de volta o espírito inovador da época.
- O mais interessante foi reunir tantas pessoas diferentes e ao mesmo próximas colaborando em um resgate do período e do movimento. A cultura brasileira está muito careta. É bom se debruçar sobre coisas que possam servir de inspiração. Espero que a mostra não seja apenas memória, que por si só não traz muita coisa a não ser saudade, mas que sirva como um sopro de inovação - torce Lacerda.
Produtor prepara livro e cogita filme sobre Science
A reunião possibilitada pela curadoria da ocupação vai render frutos. Pires prepara um livro sobre a trajetória de Chico Science. O produtor também quer fazer um filme sobre o artista, em parceria com Lacerda e outros artífices do mangue beat.
- A mostra recria o ambiente supercriativo da época, sem ser nostálgica. Nosso sonho na época era trabalhar com música e tecnologia. Se Chico estivesse vivo, imagino que estaria fazendo isso, pois hoje é tudo mais barato e acessível - conclui Helder Aragão, o DJ Dolores.
O verso e o reverso de Chico Science em mostra no Itaú Cultural em São Paulo.
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/02/02/mostra-em-homenagem-chico-science-lembra-os-13-anos-de-morte-de-um-dos-criadores-do-mangue-beat-915765862.asp
E já era hora do centro render homenagem à revolução que veio do Recife. O tributo começa nesta quarta-feira, com a " Ocupação Chico Science " no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A mostra, que pela primeira vez tem como tema um músico, convida o público a conhecer a obra e o processo criativo de Francisco de Assis França (nome de batismo de Science).
Contagiados pelo espírito coletivo do mangue beat, os curadores Ana de Fátima Souza e Edson Natale reuniram um grupo de colaboradores para criar a ocupação.
- Trabalhamos com o conceito de curadoria coletiva, muito em função da característica do trabalho do próprio Chico. Não podíamos fazer uma ocupação nos moldes das anteriores, como as dedicadas a José Celso Martinez Corrêa ou Nelson Leirner. Chico Science teve um período muito curto e fértil de carreira, portanto resolvemos focar em seu universo criativo, na época em que ele mudou o norte da música brasileira - explica Ana de Fátima, conterrânea de Science, que acompanhou de perto as mudanças da cena musical de Recife na década de 90.
Participam da curadoria coletiva o cineasta e roteirista Hilton Lacerda e o músico Helder Aragão (também conhecido como DJ Dolores), que nos anos 90 formavam a dupla Dolores & Morales, responsável pela direção de clipes do movimento e pelo projeto gráfico do CD "Da lama ao caos". A irmã de Chico, Goretti França, e a filha do artista, Louise Science, também colaboraram com a elaboração da mostra, bem como o amigo, parceiro e produtor Paulo André Pires, o Fred Zero Quatro, e Jorge Du Peixe, músico da Nação Zumbi.
Com a sensação de que presenciava algo grandioso, o produtor Pires - criador do festival Abril Pro Rock - guardou tudo o que pôde sobre a carreira de Chico Science à frente da Nação Zumbi. Em menos de três anos, o grupo empreendeu três turnês internacionais.
- O Brasil não entendeu a música de Chico Science. Vimos o exterior como a possibilidade de não ficarmos reféns do mercado brasileiro, onde a ignorância permanece. Chico Science tem a mesma importância para a música brasileira que artistas como Cazuza e Cássia Eller, mas está longe de ter a mesma popularidade - afirma o produtor, que, entre outras preciosidades, guarda até hoje o cheque com o cachê de US$ 100 ganho pela banda pelo show realizado no CBGB, em Nova York, e assinado por Hilly Kristal, dono do lendário e extinto bar.
Do acervo da família de Science vieram fotografias, objetos de uso pessoal, obras de arte e cadernos de anotações do artista. A irmã lembra que ele era "uma pessoa que não conhecia o cansaço nem o desânimo. Era como se soubesse que as coisas iam acontecer":
- Chico era encantado com a vida. Via poesia nas coisas e enxergava beleza em tudo - define Goretti. - Ele falava sobre seu trabalho como uma "diversão levada a sério". Espero me divertir com a mostra e tenho a sensação de que vou encontrar Chico lá. O público poderá ver como ele se envolvia em todas as etapas do processo criativo.
Para Lacerda, um dos parceiro de Chico na criação visual, a mostra pode trazer de volta o espírito inovador da época.
- O mais interessante foi reunir tantas pessoas diferentes e ao mesmo próximas colaborando em um resgate do período e do movimento. A cultura brasileira está muito careta. É bom se debruçar sobre coisas que possam servir de inspiração. Espero que a mostra não seja apenas memória, que por si só não traz muita coisa a não ser saudade, mas que sirva como um sopro de inovação - torce Lacerda.
Produtor prepara livro e cogita filme sobre Science
A reunião possibilitada pela curadoria da ocupação vai render frutos. Pires prepara um livro sobre a trajetória de Chico Science. O produtor também quer fazer um filme sobre o artista, em parceria com Lacerda e outros artífices do mangue beat.
- A mostra recria o ambiente supercriativo da época, sem ser nostálgica. Nosso sonho na época era trabalhar com música e tecnologia. Se Chico estivesse vivo, imagino que estaria fazendo isso, pois hoje é tudo mais barato e acessível - conclui Helder Aragão, o DJ Dolores.
O verso e o reverso de Chico Science em mostra no Itaú Cultural em São Paulo.
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/02/02/mostra-em-homenagem-chico-science-lembra-os-13-anos-de-morte-de-um-dos-criadores-do-mangue-beat-915765862.asp
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