Elis, cadê você? Onde anda você Elis que nas noites nos bares, que botou a mesa, tirou o pó, secou os olhos e que não se esquecia de pedir pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão… Cadê você, Elis? Que saudade!
Em 19 de janeiro de 1982, cheia de energia, 36 anos, Elis Regina de Carvalho Costa morria em São Paulo. Tinha três filhos, 27 LPs, catorze compactos simples, seis duplos, mais de 4 milhões de cópias vendidas, e mais que tudo, tinha uma voz mágica, que para muitos nunca foi superada. Cerca de vinte e cinco mil pessoas choraram e cantaram por sua morte no velório do Teatro Bandeirantes, palco de um de seus melhores shows, “Falso Brilhante“.
Não menos que mil fãs caminharam ao seu lado no cortejo que atravessou as ruas de São Paulo para enterrá-la no cemitério do Morumbi. Pouco importa se as causas da morte foram naturais ou não, pouco importa que seu encanto pela vida tinha altos e baixos, ou que seu temperamento forte e inseguro tantas vezes a deixassem sozinha. “Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé”, confessava ela.
A “Pimentinha”, como a chamavam, tinha 1,53 de altura, e não mais que 18 anos quando começou em 1963. Batizada no samba canção, crismada na bossa nova, Elis “pariu” compositores que estão até hoje fazendo maravilhas, mas que sem ela talvez continuassem como engenheiros, jornalistas, advogados, etc., como João Bosco, Aldir Blanc, Belchior, Gonzaguinha, sem falar no baiano Gil e no mineiro Milton que sem ela teriam tido muito mais dificuldade para serem reconhecidos.
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Tantas vezes patrulhada e criticada por sempre falar a verdade, Elis foi mulher daquelas que sempre precisamos ao lado, seja na música ou inspirando como provocadora, lutadora, estimuladora, doutora em matar leões todos os dias, em todas as arenas, com todas as forças. Como todos os que se expõe, fez muita coisa certa e muita bobagem, confessadas por ela mesma. Em 77, antes de entrar no palco logo depois de uma apresentação de Maria Bethânia, teve uma crise de choro e recusou-se a cantar. Foi para o camarim e quebrou tudo. Dizem os que por lá estavam que era insegurança pela sombra de Bethânia, digo eu aqui que foi só mais um desassossego urdido pela brutal profundidade com que enfrentava a vida. Tudo era over com Elis, e foi assim até o fim.
Seus shows eram grandes acontecimentos, seus discos foram grandes marcos da música, suas apresentações na TV sempre foram recheadas de audiência, um mito, uma voz perfeita, um swing imbatível, uma vida danada de louca. “Eu não tenho a menor intenção de ser simpática a algumas pessoas. Me furtam o direito inclusive de escolher. Sou obrigada a aceitar quem passar pela frente. Me tomam por quem? Por imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina do Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo”. Valeu leoa, valeu, só ficamos com uma saudade danada de ouvi-la novamente, mas o resto a gente entende, sempre.
Atrás da Porta, de Chico Buarque, com Elis Regina
Fonte: http://cultura.updateordie.com/musica/2010/01/19/elis-regina-leoa-danada/
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