terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ano vai ser um espetáculo


Companhias de teatro e dança com projetos prontos para entrar em cena. Outras aguardam resultados de editais

Eugênia Bezerra

O 16º Janeiro de Grandes Espetáculos começa amanhã, mas grupos e artistas já preparam outras atividades que devem movimentar as artes cênicas em Pernambuco este ano. A perspectiva 2010 conta com estreias e reestreias, turnês, cursos, lançamento de publicações, comemorações pelo aniversário de companhias e outros projetos – alguns deles aguardando a aprovação em editais como o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), cujos resultados devem ser divulgados no início de fevereiro, para terem a sua estrutura definida.

Um dos grupos nesta situação é a Compassos Cia. de Danças, que completa 20 anos em dezembro de 2010. Segundo o diretor Raimundo Branco, o plano é reapresentar até esta data quatro espetáculos do repertório do grupo: Em anexo, Desencaminhado, Sobre um paroquiano (que continua em temporada por diversos pontos do Recife) e Be: experimento quântico nº4 (que tem estreia marcada para março e aguarda o resultado da seleção de pautas do Teatro Hermilo Borba Filho).

O grupo Totem também aguarda o resultado do edital para definir cursos e laboratórios, mas já confirmou ações como a oficina de dança contemporânea ministrada por Henrique Schuller – graduado pelo Laban Institute (Nova Iorque). As aulas começam na próxima segunda-feira, no Espaço da Fiandeiros. Além disso, eles negociam temporada de Sob um céu de concreto no Centro Apolo/Hermilo, a partir de abril, e confirmam a participação no 3º Festival Latino Americano de Teatro da Bahia com o espetáculo Caosmopolita.

Outra que organiza eventos comemorativos é a Cia. Santa-Fogo, fundada há sete anos.

Entre abril ou maio, ela estreia o espetáculo O homem da cabeça de papelão (inspirado em um conto homônimo de João do Rio). Estudos sobre mímica e máscaras estão na constituição da montagem, que integra as comemorações junto a debates, mostras de vídeo e oficinas.

O Magiluth também está em processo de montagem do novo espetáculo, Diário de uma guerra, obra adaptada do livro Diário da guerra de São Paulo, de Fernando Bonassi (ele é corroteirista de filmes como Carandiru e Cazuza – o tempo não para). A direção é de Pedro Vilela e a peça deve chegar aos palcos em maio e, enquanto isso, eles organizam neste primeiro semestre a temporada do espetáculo Ato por municípios do interior e ruas da Região Metropolitana do Recife (projeto aprovado no Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua 2009). “No segundo semestre estamos em negociação para uma temporada na Argentina, Uruguai e Chile. Estou conversando com alguns grupos de teatro independente para o intercâmbio”, afirma Pedro Vilela.

A Cia. Fiandeiros de Teatro prepara uma pesquisa sobre as pessoas muitas vezes tratadas como “invisíveis” pela sociedade (o eixo é a questão dos moradores de rua) e o primeiro curso de teatro do grupo, para meados de março ou abril, que será um dos projetos de ocupação da sede da Fiandeiros, inaugurada em julho de 2009.

Premiado no programa Rumos Itaú Dança com a pesquisa coreográfica O outro do outro, o bailarino João Costa Lima pretende estrear o resultado no projeto no Itaú Cultural em março e trazê-lo para o Recife em seguida. Também contemplado em um edital (no caso, o Prêmio de Teatro Myriam Muniz 2009), o espetáculo Cantigas do Sol – D. Quixote de cordel, segue em turnê por três estados. O mesmo grupo prepara o musical infanto-juvenil O menino sonhador e dedica-se a uma pesquisa sobre a dramaturgia de Valdi Coutinho que, segundo o ator Didha Pereira, “pode resultar numa montagem bem moderna e ousada com temática gay e sobre a violência urbana”. Este ano, Pereira lança o livro A educação informal para o teatro, fruto da monografia dele sobre o ensino em Pernambuco. “Também procuraremos um meio de participar mais ativamente das políticas públicas voltadas para as artes cênicas, pois este ano muita coisa não foi respeitada e muitos projetos não foram realizados. As nossas entidades nos pareceram muito tímidas”, completa Pereira.

A Cênicas Cia. de Repertório, que neste domingo encena Pinóquio e suas desventuras durante o Janeiro de Grandes Espetáculos, prepara um projeto para adultos premiado pelo Myriam Muniz 2009: A montagem de Senhora dos Afogados, do dramaturgo Nelson Rodrigues (que faleceu há 30 anos). Com estreia marcada para setembro, a peça tem direção de Érico José e marca o início das comemorações pelos dez anos que a companhia completa em 2011.

Já o Visível Núcleo de Criação anuncia a estreia do espetáculo fruto do projeto Daquilo que move o mundo e a realização de uma residência artística no Recife. A pesquisa para a montagem durou quase dois anos e a direção é dos paulistas Francisco Medeiros e Tiche Vianna. No elenco, Irandhir Santos, Jorge de Paula e Kleber Lourenço, que apresenta outras duas estreias em 2010, além de continuar com a circulação nacional do solo Negro de estimação. Uma delas é um documentário dirigido pelo cineasta Daniel Bandeira sobre a temporada de três meses que Negro... cumpriu na periferia do Recife (também estão previstos os lançamentos da trilha sonora e de uma publicação sobre o mesmo). Outra novidade dele é a estreia da montagem de dança/teatro Estar aqui ou ali?.

A Cia. 2 Em Cena continua a pesquisa para o espetáculo de teatro-circo Reprilhadas e entralhofas – um concerto para acabar com a tristeza e também para o primeiro trabalho de dança contemporânea do grupo: Devastador, coreografado e protagonizado pelo bailarino Arnaldo Rodrigues, que volta aos palcos da dança após três anos dedicando-se ao teatro.

Manifestações culturais nordestinas e representações medievais da Europa ocidental fazem parte da pesquisa que o grupo Quadro de Cena realiza para a montagem de A lenda do Santo Fujão – inspirada em uma lenda do padroeiro do município de Taquaritinga do Norte (Santo Amaro). “O texto fala antes de tudo da revolta do santo pela ostentação e pela exploração da fé e do povo”, afirma Samuel Santos, autor do texto, que este mês ministra um curso de interpretação e improvisação no Espaço Quadro de Cena. Ele também está envolvido na montagem de A primavera dos esquecidos, que fala sobre a Aids no Sertão a partir da história de amor entre dois adolescentes.

A Quadro de Cena dedica-se a outra iniciativa para aproximar o teatro dos deficientes visuais: a audiodescrição de espetáculos. Ainda neste mês, eles lançam a Revista Grite, fruto de uma parceria dos grupos que participam do movimento Grite (além deles, o Grupo Magiluth, Cia. Fiandeiros, Grupo Totem, Grupo Marco Zero e a Cênicas Cia de Repertório) com alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco.

As apresentações também continuam pelo Recife e interior. O espetáculo O Circo Rataplan, inicia temporada no Teatro Difusora (em Caruaru), a partir deste domingo. Em Camaragibe, o Grupo Teatral Risadinha apresenta Quem trouxe o diabo ao Brasil (também vencedor do Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua 2009) a partir de março. A Trupe do Barulho, em cartaz com Chupa-chupa show e no Janeiro de Grandes Espetáculos, estreia em maio Chapeuzinho vermelho – a história que sua vó não contou, dirigida por Manoel Constantino.

No recém-inaugurado Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro), entram em cartaz peças como Babau – ou a vida desembestada do homem que tentou engabelar a morte (do Mão Molenga Teatro de Bonecos, dia 17 deste mês) e No meio da noite escura tem um pé de maravilha (infantil que estreia em março) e Carícias (entre março e abril).


Fonte: Jornal do Commercio - PE

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